terça-feira, maio 27

Amigos improváveis

O maior deles todos é mesmo grande... de uma grandeza generalizada, que faz dos outros, os pequenos, pequenas amostras da espécie... todo negro, com porte de gigante e comportamentos simpáticos e brincalhões, distraído da sua aparência assustadora, que mantém os estranhos à distância, cautelosos, cozidos à parede, só com a insistência das nossas palavras de confiança, esquecem aquele primeiro susto e, reconhecem então a sua aproximação carregada de simpatia e afabilidade !


Este portento tem dois apêndices, pequenos e fieis, que o adoram e que ele adora... não fossem os três companheiros de uma infância de aventuras e liberdade, à solta nos campos, dentro e fora da quinta, pois, embora o espaço seja grande, não resistem à descoberta do que está para lá dos muros, o outro mundo, com outros perigos, companheiros,... e outro tanto que só eles conhecem!


O gigante e os seus amigos, são um prazer para quem os vê; todos nos deliciamos, todos reconhecemos o lado improvável daqueles laços de amizade... mal sabem eles o quanto diferente nos parecem, ao nosso olhar criterioso, aquelas disparatadas desproporções.
Pandinha, todo sensível e peludinho, malhado de branco sobre um pêlo preto e sedoso, muito infantil, tem sentido nos últimos dias, no pêlo, a segregação e os maus tratos da parte do seu rabugento irmão... Formigo, descobriu o seu perfil de reguila, depois de lhe ter passado a roda de um automóvel por cima, em manifestação pós-traumática, digo eu , sarapintou o pêlo, também negro, de um branco aqui e outro ali, que lhe dão um arzinho de maduro e, daí em diante, partiu para outras tendências... fez-se refilão, e mesmo muito pouco cordial para com o irmão... dá-lhe para o ciúme e a possessividade e quer o Zappa todo só para ele! Será que não vê a enormidade do fiel amigo, a generosidade e paciência com que aceita a dupla? Não achará ele que é muito cão para um só minorca?... não entenderá que a partilha gera mais e mais brincadeira? Assim parece!!!
É que a história está ainda incompleta, falta outro improvável elemento... uma cadelinha, com cerca de 5 anos, muito ciosa de si e do seu espaço, com feitio de poucos amigos, recebe as visitas refilando até que a mandemos calar, pois para ela todos os que não são de dentro são de fora... ou seja, ou vivem no Monte, ou para ela são intrusos, por mais que nos visitem, por mais que apareçam... feitios...
A aparência da menina é a de uma esfregonazinha velha, pequenina, contraria esta descrição com uns arranques de boa disposição quando dá corridas furiosas de um lado para o outro, empurrada por uma qualquer energia, feita de saudade curada na alegria de nos rever quando voltamos da rua, mas logo se aquieta voltando à sua habitual postura de solitária e sonhadora rapariga casadoira, a quem só aparecem noivos, mais uma vez, improváveis.
O seu nome, improvável também: Xakira!
É aqui que bate o ponto... ou seja a "nódoa", o motivo destes novos atritos, tem um enquadramento e na moldura do Formigo está estacionada a Xaquirinha, bela, cheirosa e sedutora coberta do seu manto de pêlo de esfregona usada, com feias marcas de olheiras feitas de despenteado pêlo acastanhado sobre um fundo branco sujo, muito sujo, malha aqui, malha acoli, tudo muito desordenado e irregular... a minha Xaquirinha é mesmo feiosa... mas ela não sabe... e não sou eu que lho vou dizer!
E lá andam todos, no seu grande espaço, despreocupados e bem cuidados pelo dono e mimados pela dona, empurrados por impulsos e instintos vão gozando os dias na descontracção que Deus lhes deu. Não me sinto DONA de coisa nenhuma mas nisto dos cães é assim que me vejo, pois eu sou tanto dona deles como eles donos do meu amor e ternura por eles, cada um na sua vidinha cada um no seu espaço!
O Zappa, grande em tamanho e simpatia, ai de nós quando lhe cheirar a namoros, acaba-se de vez com as amizades improváveis... o Pandinha, encolhido e surpreso com a nova agressividade do irmão, até há data tão igual, tão irmão, o Formigo menos irmão e mais macho, mais fera mais instinto, apesar do seu diminuto porte, sempre vai mostrando os caninos afiados a alguém... o inconformado sangue do mesmo sangue... e finalmente a donzela, a Xaquirita, entre o indiferente e o pomposo, de juventude duvidosa, sempre vai aproveitando os admiradores, alguma cor e animação hão-de trazer à sua pacata existência...
E nós, os racionais cá nos vamos divertindo com estas nuances do relacionamento canino, tão mais legítimo e compreensível do que, bom enfim... era do fiel amigo dos homens que tratava a minha vontade de escrever... não tencionava bater em ninguém a esta hora.

15 comentários:

Cristina Paulo disse...

Quantas vezes me deixei perder horas a fio a ver as andanças e desandanças dos meus cães, os seus dramas e brincadeiras, arrufos e concessões...e digo "meus" porque os amo, mesmo agora que já não os "tenho" comigo, meus serão sempre, pelo menos no meu coração.
O quanto eles têm para nos ensinar...mas nem todos querem aprender ;)
Beijos e Boa semana!

Anónimo disse...

Também tenho esses amores e não passo sem eles.

mas dão cada lição aos racionais....


beijinho

Anónimo disse...

os seres que partilham os nossos dias e que não têm a menor noção, por exemplo, da existência do dinheiro!g.
bjs

xistosa, josé torres disse...

Quando li o fiel amigo, pensei que ia falar do rei da Dinamarca e do bacalhau ...
Afinal há mais amigos fieis e que não nos atraiçoam.
Podem cometer sempre as mesmas tropelias, mas para eles são sempre novas.
Alguns aprendem, quão sagazes são, mas outros, conhecendo a lassidão do dono, fazem o que lhes apetece.
Têm a liberdade, (alguns, agora ter um serra da estrela numa marquise), que ao longo dos séculos foram aprendendo com a domesticação.
Não tenho nemhum ...
Quando ia de férias, via-me aflito para o(s) deixar num canil.
Um dia acabei por desistir e quando morreu o "Shane", (foram todos "Shane", ao longo de mais de 40 anos). acabei por ficar sem amigos improváveis e imprevisíveis ...

Talvez um dia eles voltem, apesar de terem castas ... os nossos e os dos outros, incluindo os abandonados.

Perdemo-nos a admirá-los, não necessitam de dinheiro para ser felizes e mesmo com fome, saltam de alegria se virem os seus amigos humanos ...

Linda postagem ...

inespimentel disse...

Siala, aprende-se tanto a observar... os animais , as crianças, e também os graúdos mas não dá o mesmo gozo.

inespimentel disse...

Minucha sempre tenho tido , cheguei a ter 8, sem ajuda, foi um exagero mas recordo essa como uma fase de muita e boa companhia.

inespimentel disse...

Anónimo, pois é não têm mesmo, é preciso é que lhes cáia a ração no prato sem falhar!
Até que alguns têm uma bela vidinha... vida de cão? Também quero... brincando, claro!

inespimentel disse...

Xistosa belo começo de comentário.
Eles são como os outros que educamos, têm de saber o que é uma ordem e quem manda, têm de brincar e obedecer. Eu parece-me que já não saberia viver sem adoptar pelo menos um. Há muitos abandonados e são uma companhia fantástica,,, haja condições de espaço e terei sempre companhia.

inespimentel disse...

Xistosa e mais uma coisinha... a amizade que chamei IMPROVÁVEL foi a que se estabeleceu entre animais de porte tão díspar, o Zappa, o Formigo, o Pandinha e a Xaquira, porque a amizade que nos dedicam, e a que nós a eles dedicamos, é mais que provável... é quase certa e garantida, não acha?

Anónimo disse...

Apesar de agora não ter cães, tive-os no passado e, sei muito bem o que é a "convivência", a partilha que existe de uma forma quase institucional.
Um belo tributo ao melhor amigo do homem!
Parabéns pelo tema.
Adorei a narrativa, senti-me transportado para um mundo que não me é indiferente.

Anónimo disse...

o post e hoje, ou de ontem segunda-feira, foi o que tu pediste.

beijinho

xistosa, josé torres disse...

Não têm dias de inimizade e se forem educados de pequenos, ou até de grandes.
São uns companheirões ...
Dizia á vezes na brincadeira á minha mulher, (mesmo sozinho com ela, ela vê-se aflita, porque nunca sabe quando falo verdade, deixa-me falar com o cão ... que já te respondo).
Outras vezes era ao contrário, mandava sentar e sossegar o bicho e dia:
- Está quieto! Quero falar com a tua dona!

A mulher ao fim de 35 anos já sabe o que tem em casa ... mas um cão é uma grande companhia.
O pior é quando chegam as férias ... não há locais para os deixar e apesar de me dar bem com os vizinhos, não tenho coragem de pedir nada.
Um deles, que tem casa no Porto Santo, paga meio bilhete por um gato, dentro da respectiva embalagem, como a TAP quer ...

Mas nunca mais vou ter bichos.
Até já me desfiz da casota e de tudo o que me fazia lembrar o amigo de 4 patas.
Ao londo de 40 anos, foi "sempre o mesmo", porque todos se chamavam "Shane".

Anónimo disse...

Olá Inês! Aquela anónima lá de cima era eu! Hoje reli este teu texto que está giríssimo e muito bem escrito. Gostei muto! Bom fim de semana aí à malta toda, bípede e quadrúpede!
bjsssssssssssssssssssss Graça.

Cristina Paulo disse...

passei para te desejar um bom fim de semana...que o Sol brilhe também dentro de ti e ilumine todos os recantos ;)
Bjos meus

SAM disse...

Code RED code RED !!
THE PERVERT IS BACK !!!

o que me faz feliz

o que me faz feliz
o meu mundo ao contrário

O meu Farol

O meu Farol

A bela foto

A bela foto
o descanço dos meus olhos

A minha cama na relva

A minha cama na relva

O meu Algarve

O meu Algarve

...enquanto uns trabalham...

...enquanto uns trabalham...