segunda-feira, março 31

Há palavras de que não gosto e outras que me são caras

Psidónio cheira-me a colónia barata e associo a soquete que também me leva para vãos de escada com cheiro a mijo de gato... não gosto.

Outras como birra, abstrato, mau, piropo e piparote que, só para dar alguns exemplos, encerram na sua música o sentido que lhes atribuimos.

Cerimonioso estamos mesmo a ver o seu significado... não podia ser outro... eu sou, e muito; não me parece um mau princípio nos dias que correm!

Aldrabão, alarve, ganâncioso... que bem que ficam a quem assim baptizamos, pronunciá-las deixa-nos os sentidos alerta.

Os tempos verbais e a sua música levam-nos a sentir a acção que descrevem: fugiu, acabou e sonhei por exemplo... e aquelas palavras que, casadas umas com as outras, nos atiram com inevitabilidades para cima, com um - NUNCA MAIS ou por outro lado, PARA SEMPRE, são antecipações futuristas redutoras mas que ao ouvido soam tão definitivamente determinantes!

Ontem o sono não vinha e andei a navegar no mundo das palavras e dos seus pesos e sentidos; foram muitas as palavras que vinham em catadupa (palavrinha engraçada) e diverti-me bastante a escolhê-las, atribuir-lhes sentidos e humores... mas em cima delas dormi um sono longo e hoje quiz deixar por aqui sinal de que entre mim e as palavras soltas houve ontem um encontro, já que os carneiros por ali não passaram!


Inconfidências

Venho do colo da minha mãe
Do ninho de fofas penas
Brancas asas protectoras

Aconchegante berço de afectos onde o amor é imenso e incondicional

Nunca ninguém me deu tanto
Me sentiu e pressentiu
Conheceu e reconheceu
Nos meus altos e baixos
Aceitou quando estive bem e agi mal
Nunca um amor foi tão estável, tão seguro, tão constante

Nunca ninguém me deu tanto
Desvalorizando as imperfeições e enaltecendo as qualidades
Acreditando na força e no sonho
Fazendo figas e rezas
Secando lágrimas, oferecendo abrigo

Nunca ninguém me deu tanto
Nunca um amor se instalou tão a jeito no meu coração
Nunca a minha alma teve outra tão gémea
Nunca o meu espírito teve outro tão próximo
Nunca vivi em ninguém nem ninguém viveu em mim desta forma
Nunca concebi maior afecto
Nunca nada na minha vida foi tão incondicional como o amor de minha mãe

É ela que me tem sempre presente, a cada momento, no seu coração, pensamento, alma, em cada prece, em cada suspiro

Entre mim e a minha mãe não existe distância,
eu vivo nela e ela em mim,
ontem hoje e até à eternidade

sábado, março 29

BEM

Esta estranheza... esta inverdade de ver o tempo parado, aqui no meu blogue... como se tivesse fotografado um mau momento do meu instável humor e, assim, o congelasse no seu pior...
Embora já por aqui tivesse passado só agora se tornou insuportável este melodrama fora de prazo; agora que a Primavera chegou, que mil pássaros ensaiam os seus primeiros voos entre repenicares de mil e uma notas eu, aqui em frente do monitor, vos digo:
- Tenho as mãos abertas para receber a imensidão de presentes que me dá a natureza... não as fecho para que não as prenda e as sinta minhas... assim como me chegam se vão.
Perdendo e ganhando se fazem os dias, se percorrem caminhos e cumprem as vidas!

quarta-feira, março 19

pitada de melodrama... coisa de mulher...

evaporei a vontade
diluí o desejo
abortei as certezas
esqueci o nome
sequei as lágrimas
parei os passos
as mãos inertes
os braços caídos
costas curvas
fardo invisível
porta fechada
sem vontade, sem vontade
para cima e para baixo
o humor sem graça
sem sorriso
triste... triste...
tem dias assim...
não empurrem, nada digam, não entendo a vossa linguagem,
não me enganem, eu sei que estou só
amanhã talvez consiga sentir o teu calor,
talvez os meus olhos consigam ver-te...
ver-te chegar, na linha do horizonte, de verdade
... hoje, não passas de uma ilusão,
um croqui, um rascunho dentro da minha cabeça.
Estico os braços em redor
cabra-cega, cabra-cega
as mãos, cegas também, abrem-se à esperança de algo agarrar
... e fecham-se vazias, unhas cravadas na carne, apertando o nada para que não lhes fuja

PS vou interromper a minha rotina por uns dias... prometo voltar com as mãos cheias de coisa nenhuma mas outro humor... vou à minha terra, espreitar laços, carregar baterias.
Fiquem bem!

quinta-feira, março 13

Aí vai disto, Marta:
Se eu fosse um mês seria o mês de Fevereiro, no qual nasci ... para suavizar as nuvens que vêm com ele tenho de procurar o meu sol interior
Se eu fosse um dia da semana seria a sexta feira, dia de promessas várias.
Se eu fosse um número seria o SSSete, é uma palavra sibilante, faz vento e canta, gosto.
Se eu fosse uma flor talvez um jarro, que é flor que aprendi a gostar com a idade e hoje acho espectacular.
Se eu fosse uma direcção sempre em frente, sem nada que me detenha se possível.
Se eu fosse um móvel... talvez uma mesa de cabeceira que tanto poderia contar sobre cada um de nós, as nossas preferências e intimidades, as nossas escolhas, enfim...
Se eu fosse um liquido seria… água puira cristalina, em todas as suas formas, do copo ao ribeiro.
Se eu fosse um pecado seria a condescendência sem limites, até à imoralidade.
Se eu fosse uma pedra seria uma pedra pomes, com aquele arzinho de pedra pesada mas que depois de lhe tomar o peso... desconcerta.
Se eu fosse um metal seria ferro forjado, idade incerta, feito para durar, não brilha nem enche o olho.
Se eu fosse uma árvore seria um chorão, como o que tenho à porta de casa, que sabe muito mais do que eu sobre o passar do tempo...
Se eu fosse uma fruta seria uma boa pêra, discreta e única.
Se eu fosse um clima seria aquele que tudo pára, suspenso nos seus caprichos…
Se eu fosse um instrumento musical seria um piano, sem dúvida…
Se eu fosse um elemento seria água, em quaquer das suas variantes.
Se eu fosse uma cor, seria hoje um verde de rebento, de vida, de tenro recomeço.
Se eu eu fosse um animal seria um simpático golfinho que se mistura quando quer, mas conhece as lonjuras dos mares.
Se eu fosse um som seria o "som dos ribeiros a correr entre seixos", das pequenas cascatas sobre os agrestes rochedos, dos pingos de chuva no telhado.
Se eu fosse uma canção seria um Leonard Cohen, um Palma, um bom intérprete, uma boa letra, um sussuro ao ouvido
Se eu fosse um perfume o da madresilva ou melhor ainda o do alecrim que ADORO.
Se eu fosse um sentimento seria ternura pura e dura…
Se eu fosse uma comida seria um ovo... tão versátil, numa embalagem tão curiosa, fascina-me
Se eu fosse uma palavra seria um NÃO que é o que me vem antes do sim que acaba por vir sempre destronar o não
Se eu fosse um verbo seria o verbo SER, facto da vida, ou o EXISTIR, tb serve
Se eu fosse um objecto seria uma almofada... para pôr em cima de um ombro amigo que gostava de oferecer a quem quiser usar
Se eu fosse uma peça de roupa seria qualquer coisa de muito fofa, leve, como uma segunda pele.
Se eu fosse uma parte do corpo seria uma mão estendiada, para dar, receber, puxar e empurrar, roer as unhas, sujar e lavar, tocar sentir... etc
Se eu fosse uma expressão seria de espanto... acredito nas coisas que me dizem com convicção, em família adoram pregar-me mentiras
Se eu fosse um desenho animado seria a Chihiro e a sua alucinada viagem pelo imaginário sem fim
Se eu fosse um filme o "Piano"..., sem comentários, e "ondas de paixão", sublime
Se eu fosse uma forma seria etérea... adaptava-me ao recipiente
Se eu fosse uma estação seria… Outono, quando o ritmo acelerado do Verão já lá vai e me preparo para o mergulho interior, o encontro e recolhimento depois dos excessos de ""porta aberta" em que a "silly season" é levada, neste clima mediterranico.

segunda-feira, março 10

MELECA

É difícil calar a razão com rolha que não nos convence...


Quando à nossa razão acrescentamos novos pontos de vista, quando a enriquecemos com outros argumentos , crescemos, renovamos, e a nossa razão é mais válida e abrangente!


Se a hierarquia é , em si, o argumento, mal vai a democracia!
Assim se constrói o cinismo, a arrogância e a falta de transparência... andamos a precisar de boas cabeças, descomplexadas, arejadas, inteligentes.
Querem marcar pontos... mesmos quando não estão com posse da bola...
O árbitro está vendido...
O público já se fartou do espectáculo...
Oh segunda -feira malfadada que me mostras um mundo ao contrário...
Pior do que tu só mesmo a terça-feira

quarta-feira, março 5

Envelhecer
... é, talvez pelos quarenta anos, que nos começamos a aperceber... o tempo não pára, voa mesmo... e nós voamos nos seus caprichos.
Depois de tudo o que até aí vivemos, toda a experiência acumulada, damos por nós a fazer juízos de valor e avaliações sobre aquilo que foram esses anos em que a vida corria veloz e nem sempre pensámos que este rio não se detém, sob nenhum obstáculo!
Desaguamos na meia idade, entre rotinas e dias, tão acelerados que o susto vem, mais cedo ou mais tarde, obrigar a um olhar mais sério e profundo para o que mal acreditamos:- O quê? Estou com quarenta???... Ou estou com cinquenta???... ou... já lá vejo os sessenta, ao virar de mais umas histórias, mais umas alegrias e tristezas, mais uns lutos, lá estão eles, incontornáveis, para nos derrotar ou...
.
.. pois é este ou que tenho em mim, e observo em muitas mulheres, este querer aproveitar cada vez mais e melhor todos os momentos da minha vida... e a consciência de ser capaz de o fazer, encontrar alegria, bem estar e satisfação, usufruir enfim desta aventura, cada pedaçinho com prazer... é preciso que a saúde o permita porque se assim não for, tudo é mais difícil e trabalhoso... nem tenho a presunção de que conseguisse separar o corpo do espírito e sentir-me em paz mesmo estando doente.
A propósito de uma visita ao Claras, volto a estes pensamentos que me são queridos;
Como mulher sinto que me foi dado o privilégio de aprender por dentro o que é a vida, naquilo que nos é dado entender, da barriga da mãe ao- b, a, ba, da descoberta da amizade até ao primeiro amor, dos desgostos e euforias, da lealdade às traições, tudo isto e tanto mais passa por nós a duzentos à hora, sem nos darmos conta.
Quando chega o nosso momento de viver o "milagre"quando de um encontro mais profundo nasce a vida de outro ser, cheio de fragilidades, mas, por outro lado, tão potencialmente forte, e que nós mulheres vamos acompanhar, desde o beijo e o abraço em que tudo começou, até à idade adulta, se a vida assim o quiser.
Temos então a oportunidade de observar, passo a passo, as conquistas o crescimento, os traumas e tendências, as qualidades e defeitos, todo um projecto de gente em construção, que seguimos com todo o carinho e a atenção.
Esta viagem é um processo de auto conhecimento inestimável.
Esta aventura ensina o amor mais profundo e desinteressado, ensina a capacidade de perdão sem limites, ensina a compaixão (que para mim não é mais do que a capacidade de nos pormos nos sapatinhos do outro, com todo o sentimento), passar por esta experiência e levá-la a sério, é um curso completo de psicologia que nos leva a reviver a nossa própria caminhada, até ao ponto onde nos encontramos!
Assim vamos atravessando os dias entre tempestades e bonanças, até que, como se do nada viesse, chegam os "entas"... que, pasme-se, vieram para ficar!!!... é aí que tudo tem de ser repensado, pesado, avaliado, espremido... um novo ponto da situação é feito... a decisão é tomada.... vamos usar o que nos resta de dias a lamentar o que não fizemos e o que fizemos mal, tentando arranjar desculpas e justificações para o que ficou no passado, ou vamos libertar-nos de de toda a culpa e assumir que o que está feito pertence ao passado, tirar o proveito e a moral, e, quando disso se trata, dizermos ao nosso ouvido, fiz o melhor que podia e sabia???...
... é assim que chegamos à idade "madura" e, digo eu, só nos podemos sentir melhor do que nunca!
A decisão só pode ser uma:... continuar a acreditar e a ser feliz, mais e melhor feliz!
Eu hoje sou muito mais completa, muito mais sábia e feiticeira, capaz de inverter, muitas vezes, o que leva mau rumo, capaz de sarar feridas nos outros, pronta para uma palavra, um ombro, um aconchego...
Todo o sentimento é aproveitado, todo o carinho é intencional, toda a viagem é uma aventura potencial, todos os dias devem acrescentar qualquer coisa de bom à nossa vida!
É essa força que em nós não morre, antes pelo contrário, cresce, cresce e ganha forma:
Forma de liberdade, de prazer, de paz, forma de mulher madura, segura, inteira, que enche o vazio com as suas gargalhadas e luta com indignação pelas causas de outros, que dá colo, que dá mimo e sabe ser feliz... porque, já que aqui anda, não vale mesmo a pena viver de outra maneira!!!

o que me faz feliz

o que me faz feliz
o meu mundo ao contrário

O meu Farol

O meu Farol

A bela foto

A bela foto
o descanço dos meus olhos

A minha cama na relva

A minha cama na relva

O meu Algarve

O meu Algarve

...enquanto uns trabalham...

...enquanto uns trabalham...