... pronto, já chega... acabou... não quero saber mais da vossa crise, e das falências várias em que o vosso desgoverno desaguou... gastaram o que não tinham, acima dos vossos fundos, iludiram quem vos procurou, com meias palavras e falsas promessas, andaram a acenar tentações irresistíveis a ingénuos, ou tolos, que pecaram por acreditar que podiam sonhar com... um jipe para o mais novo, uma viagem ao Brasil, uma casa mais espaçosa, outra a construir no litoral... logo se paga, logo se vê... a sociedade em festa, o crédito oferecido, impingido, para tudo o que se queira!!!
... e agora? Tenho que vos secar as lágrimas? Querem que chore convosco, que me fuja o sono?
Onde e como está o resto do mundo? Deixou de existir? Temos que atravessar convosco o árido deserto dos telejornais, a que, sei lá quando, me habituei a chamar notícias, onde o tema é chafurdado e esmiuçado até ao fio... crise, a crise, maior, mais gorda e demolidora, justiceira e cega, destrutiva, assustadora, como nunca antes foi, a pior!!!
Mas, minha gente, saibam que, desde "a entrada" do euro na minha carteira, que estou a viver uma crise sem par... pior a cada dia, a cada carrinho de compras, sorte que tenho uma boa vida... para lá da miséria material a que o meu patrão me "obriga"!
A crise, para mim, já fez os estragos que podia, aprendi a comer mais açordas e sopas de tomate com pão, sair menos, faço mais jantares e festas em casa, discute-se um pouco mais , para não deixar mal o ditado " casa onde não há pão, todos ralham e ninguem tem razão", nada de especial, só para cumprir com a tradição!
Por algum acaso tiveram que me secar as lágrimas?
Acordei alguém com os meus suspiros durante as insónias em que as contas do deve e haver teimam em pender e pender e pender, até ao sufoco, para o lado da insónia????
Pois agora aguentem-se, sejam homenzinhos, enfrentem esse buraco negro em que se meteram, e nos enfiaram por efeito dominó!
... cambada de mariquinhas sem escrúpulos, agora querem colo? Tecto e protecção?
Agora querem ajuda? Uns milhares de milhõezinhos, é?
Apelam, esperneiam querem contagiar-nos no vosso desespero... mas enquanto vocês se desesperam por cortar uns zeros desta ou daquela conta, a vida por aqui continua, é que nós "aprendemos a reduzir as necessidades, para conseguir passar bem"... são anos de árduos trabalhos, centenas de refeições, montes de projectos adiados, sonhos amarfanhados em gavetas, imensos carrinhos de compras estudados ao cêntimo, reduções e reduções, até áquele ponto em que nem xineses, nem 150entas, nem saldos, nem rebajas, até ao último furo...
Por outro lado... haja música, ar puro, um sorriso, uma boa sopa, um bom livro, alegria, mar e areia, amor, e sempre aquela energia de sacudir a poeira e dar a volta, e cá estamos, acreditando que este dia chega ao fim sem dramas maiores... como diz um amigo, "é preciso é que não piore", vamos vivendo, como Deus, seja lá o que ele fôr para cada um de vós, vai sendo servido, momento a momento dia a dia!
... e cá no fundo lá vamos seguindo com este palpite latente, como o pulsar de uma besta que nos espera, faminta, no escuro, ansiosa por nos devorar, extorquir, aniquilar, derrubar, até ficar sózinha, no deserto que é a sua casa, atolada no seu próprio esterco, doida, cega, investindo contra fantasmas, sabendo que enquanto sentir o cheiro de sangue sabe que ele corre nas veias de um, nem que seja o último homem vivo para ser chulado e explorado até ao nada!
As boas notícias talvez venham depois, sejam lá quais forem, quando a besta se comer a si própria talvez o estrume que produziu nos deixe plantar um jardim!