quarta-feira, maio 20

Assim tanto espaço também não....

Então é por isso
Quando os homens e o seu mundo ocupam demasiado espaço dentro de mim, como se fossem, de facto o centro de tudo o que existe, quando o meu olhar não alcança mais do que as suas casas, as suas construções, os seu meios de transporte, o meu ouvido se enche dos sons que produzem... eles e o mundo que é só deles, com as suas máquinas, as suas vozes, os seus ritmos alucinantes e alucinados, quando para encontrar o meu equilíbrio tenho de olhar para o céu, procurar o seu azul, ou viajar nas suas nuvens, quando já não sei se as estrelas ainda brilham, se a lua está cheia ou nova, quando tudo isto e muito mais me acontece eu sinto uma irresistível necessidade de fugir!
Sinto-me mal... triste e envergonhada, pertenço a uma espécie assustadoramente invasora, parasita e prepotente, em que os mais fortes esmagam os mais fracos, até mais não poder; consome hoje em excesso, desperdiçando, o que amanhã há-de ser vital aos seus filhos;
causa sofrimento aos seus irmãos... e rejeita como irmãos aqueles que são diferentes!
Assiste indiferente ao desaparecimento de outras espécies e foge aos saltos e gritinhos quando algum outro animal se cruza no seu caminho, tem nojo das rãs e dos camaleões, confunde abelhas com vespas e desespera nas cidades porque os pombos lhes sobrevivem!
Guarda muito mais do que alguma vez vai precisar para si , ignorando que o mundo à sua volta só pode ser aprazível se houver sensibilidade e solidariedade!

terça-feira, maio 19

Cidade, para mim

A cidade surda fala-me das histórias dos homens
A cidade fala-me em excesso
... não das suas histórias de conquistas e venturas, das suas esperanças e alegrias,
... nem dos seus sonhos...
A cidade fala-me das suas misérias, da paleta suja das suas frustações, da sua solidão.
Nos seus olhos baços e tristes vejo tudo o que os homens da cidade não viveram, a alegria que lhes escapou, as árvores que não plantaram, os luares que lhes escaparam, vejo os seus futuros empenhados e as suas ilusões engaioladas em becos sem saída
O sufoco em que sobrevivem, a sua luta diária
...sinto tão absurda, intensa e desesperadamente o seu naufrágio que todo o brilho em mim se extingue!
Já não sei se o dia morre, se o sol se põe
Já perdi o azul intenso do céu
o canto dos pássaros
oh desventura, que triste ser cidade
não preciso de ser cidade para me perder de mim, nem de ser natureza para me encontrar
dentro de mim guardo a chave para encontrar toda a luz, toda a graça, toda a força
mas a cidade invade-me com toda a sua enorme e profunda tristeza e leva-me a redescobrir prantos que já esqueci, lágrimas que já não quero derramar
Cinzenta afasto-me dela, fraca e triste, e aqui, longe do betão e dos rostos anónimos e perdidos na sua inconsolavel solidão, lambo as minhas feridas e peço ao sol que me aqueça e embale!

quarta-feira, maio 13

Sem vrrrrruuuummuuuuuss, por favor!!!

É curioso quando somos levados a reconhecer a existência de algo pela sua ausência!
O ruído
Quando o nosso dia é passado num ambiente onde muita gente circula, sendo que a maior parte são jovens e crianças, é uma constante o barulho de fundo que acompanha todos os momentos das nossas horas de trabalho!
Através desse som permanente podemos sentir o pulsar dos ânimos, dos humores!
Ao entrar na escola, logo de manhã, posso, quase, adivinhar o clima... o dia da semana... a época do ano...
Outras vezes um conflito latente que provoca um sururu, uma trica, uma fofoca, novidade ou surpresa e logo as conversas sibiladas pelos cantinhos... tudo, tudo isto se reflecte no meu ouvir e se traduz numa informação que com o tempo vou aprendendo a descodificar!
A excitação do fim-de-semana ou o entusiasmo com os finais de período... ou os primeiros dias de sol, são particularmente barulhentos!
As cenas de "porradona", e então quando o conflito é entre miúdas, dão sempre um ar que se enche de ruídos de felicidade geral, de festa, com pompas de grande evento iminente, imperdível, desmarcado mesmo!
Certos acontecimentos, mortes e acidentes, doenças e catástrofes naturais, por esse mundo fora, acordam a escola num respeitoso murmurar, entre sussurros e conversas sentidas, até que a normalidade se instale de novo!
Hoje, um misterioso e acolhedor silêncio acompanharam os meus passos quando entrei na escola e subi as escadas até à biblioteca!
Uma ausência, um vazio, um limbo sonoro... como se tudo esperasse um início anunciado de qualquer acontecimento que me escapava!
Assim começou o meu dia, neste aprazível fundo sonoro mudo e quedo, onde, apesar de rodeada de cerca de 400 pessoas, me senti quase a única com existência real , e os outros faziam a habilidade de serem em silêncio, parte do meu mundo!
Sou, (falo por mim embora me pareça que não se pode ser doutro jeito), fisícamente muito sensível aos sons/ruídos que me acompanham... penso que esta sensação de "bagunça" se instalou no fim-de-semana dentro da minha cabeça, pois levei o "santo" domingo a ouvir um campeonato de motocross, ali ao alcance do meu aparelho auditivo, uma autêntica violação, em que eles vruummm, vrummm, vrruumm vrruumm todo o dia, um gasto de combustível e paciência, um desespero, dizia que este caos auditivo em que fiquei só hoje se desanuviou, "por conta" desta aprazível e aparente acalmia que hoje se respira na escola... e nem sei porque é... efeitos da crise, talvez, um compasso para digerir, um tempo para carregar as baterias, no silêncio da nossa interioridade!
Sem vrruumms, nem vrruumms!

o que me faz feliz

o que me faz feliz
o meu mundo ao contrário

O meu Farol

O meu Farol

A bela foto

A bela foto
o descanço dos meus olhos

A minha cama na relva

A minha cama na relva

O meu Algarve

O meu Algarve

...enquanto uns trabalham...

...enquanto uns trabalham...