Antes de enviar para a lixeira este mail que escrevi, há meses, a uma mãe amiga, resolvi lê-lo e gostei... gosto de me reler, nunca me lembro das palavras que escolhi e fico sempre agradavelmente surpreendida, modéstia à parte.
Aquela a quem estas palavras foram dirigidas há-de entender que as atire a outras mães de outros Afonsos, Franciscos e Franciscas, Joanas e tantos outros que na sua sede de crescer nos vão tirando o sono.
Paciência, é a palavra chave, com um pouco de bom senso, e inteligência associados, mais o tempo a passar, tudo se resolve!!!
E depois são só 8 ou dez anitos, passam a correr... estou no gozo...
Manter um balanço positivo, sentido crítico, tentar estratégias novas, dar luta, não pensar que hoje vai ser igual a ontem, pois podemos sempre tentar que seja melhor, pelo menos a nossa atitude! A Francisca e o Afonso já nada esperam de nós... nesta fase querem distância, querem avaliar ( pela negativa) as nossas verdades, tudo o que lhes transmitimos vai ser ridicularizado, avaliado à lupa, eles precisam(exigem) que nos distanciemos deles para que o possam fazer sem confrontos constantes. Para poderem estruturar as suas próprias convicções, no sentido de encontrarem o caminho que mais lhes convém vão mesmo ter de fazer alguns disparates (lembras-te, também por lá andámos); vão bater o pé e dizer que não querem ser como nós, vão afirmar que os tempos são outros, alegar que estamos desfasados da realidade, e eles até sabem MUITO BEM tudo o que devem saber sobre a vida! Pois... agora deixamos de ser os seus educadores, os seus acompanhantes... ficamos na expectativa de ver o resultado da educação que lhes demos, enquanto isso foi possível. Agora é a vida, são os amigos, o mundo lá fora, não é fácil para eles sacudirem-nos para longe mas é uma necessidade a que não podem fugir. Faz parte do seu crescimento e vai correr tudo bem... acredita, daqui a 10 anos ela cai-te nos braços com cartas de amor e agradecimentos sentidos por tudo o que lhe deste, todo o amor, toda a paciência toda a terna atenção para ti que foste a melhor mãe do mundo. Aí consolas-te e agradeces esse momento que parecia nunca chegar. Até lá mostra-te disponível, quando ela queira, atenta se ela precisa, e respeita, quando puderes, os limites que ela te exige, pois não temos outro remédio. Eu até consigo ver a graça de tudo isto: tantas certezas e convicções, tantos medos e complexos, tanta euforia, tanto precipício, tanto voo, tanta queda; é uma fase fantástica da vida e a última coisa que desejamos é que nos vejam como inimigas... não como amigas, tudo bem, isso seria pedir demais, mas pelo menos um sorriso, uma brincadeira, um gesto terno. A vida agora toma conta deles.
PS deixei o Afonso ir ao Sudoeste, 5 noites fora de casa, eu com o coração nas mãos mas encarando estas experiências como necessárias saudáveis e incontornáveis. Se era o seu maior desejo para quê esperar mais um ano? Assumi esta decisão sózinha, fi-lo meu cúmplice, disse-lhe que o resultado tinha de ser o melhor, e pronto ontem , para meu alívio regressou a casa "uma beca estoirado mas feliz". Para mim foi como se ele tivesse mais tarde ou mais cedo de levar esta "vacina". Já está, correu bem e eu ontem dormi tranquila, até à proxima, que há-de ser antes de eu me ter preparado; é sempre assim com os adolescentes, nunca estamos preparados, parece-nos sempre cedo... para eles tudo lhes é urgente, tudo vem tarde, sentem-se presos ...... e nós, cá em baixo, ficamos estarrecidos, de coração palpitante nas mãos, a vê-los, de asas abertas, nos seus primeiros voos, ainda tão atabalhoados mas tão corajosos, tão aventureiros, tão saudavelmente cheios de fé: na vida, nos outros, neles próprios... dão gosto, respeito e ternura estes nossos rebeldes adolescentes!