segunda-feira, agosto 9

Férias na Zambujeira

Fresca e repousada, estendida sobre a cama, despertei-me num suave ruído que me trouxe para fora do quarto, mesmo ali, roçando-se na parede da janela do quarto, aquele ritmado som que quase se apaga, para logo renascer, numa cadência de esforço sem nome, morria e logo recomeçava, persistente, esforçado, como se um último suspiro teimasse em voltar, quase inaudível, teimoso, a adiar o inadiável!
Em silêncio quis saber e, curiosa, estiquei-me para fora da janela; abrindo o olhar sobre uma alma sem idade, que arrastava um corpo com mais de 150 anos, sobre duas muletas... Tic- Tic, o metal no seu cantar quase leve, muito lento, batia a calçada, como se não houvesse amanhã, em contraste com o que sobre ele se arrastava numa lentidão de doer, numa insistência de admirar, só porque parar é morrer a velha senhora ia em direcção ao mar, às falésias que nem sei se os seus gastos olhos conseguiam alcançar, mesmo ali à sua frente... talvez o cheiro a marezia... quem sabe a brisa do mar, o grito das gaivotas... talvez apenas o peso, ou a leveza das recordações, quem sabe se a certeza de que parar é morrer... certo é que ela se movia e alguma certeza tinha porque não parava, tão lenta quanto se possa imaginar... o mar imenso oferecia-nos a ambas o espectáculo sublime da sua comovente imensidão... ela, a velha senhora, oferecia-me uma lição de vida!
Recolhi-me ao silêncio, dentro do quarto e pensei... assim se gozam as férias na Zambujeira do Mar!
Nota: marezia será com S, mas a mim se assim fôr já não me cheira a mar!

2 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Como sou, sempre que posso, mordaz, ao começar a ler e já "sentindo" o som do tic-tac, lembrei-me se não seriam 99 (noventa e nove vezes tic e 1 (uma) vez tac.
Então teria que ser uma centopeia com uma perna de pau.
Depois deste meu pensamento livre, só não me livro da liberdade do pensamento do mar.
Há anos que ando para conhecer Zambujeira do Mar e há anos que ando a adiar.
Vou tentar lá ir enquanto estou vivo.
É que depois vou passar muito tempo morto.

Cumprimentos e uma boa semana.

inespimentel disse...

Ai Xistosa há tanto tempo que não visitava o migalhas que até já o tinha perdido... juro... não sabia onde andava...que ingrata, tantas as alegrias que por aqui vivi.
É certo, não deixe de ir, enquanto vivo, à Zambujeira do Mar! É forte, intensa, única, vale a pena; digo eu e oputros tantos fãs!

o que me faz feliz

o que me faz feliz
o meu mundo ao contrário

O meu Farol

O meu Farol

A bela foto

A bela foto
o descanço dos meus olhos

A minha cama na relva

A minha cama na relva

O meu Algarve

O meu Algarve

...enquanto uns trabalham...

...enquanto uns trabalham...