no meu silêncio visto-me de negro e cubro-me de distância
isolo-me no cume gelado da minha solidão
reduzo-me à dimensão duma poeira
em explosão de sofrimento cósmico
no meu silêncio mora o meu mais mudo e irredutível autismo
as minhas dores mais lancinantes
os meus partos impossíveis
no meu silêncio moram todas as minhas dúvidas e anseios
medos e desesperos
no meu silêncio sou o náufrago que já desistiu de nadar
braços caídos à espera do fim, a boiar na escura profundidade dos oceanos
neste meu silêncio sou a criança que nunca cresceu
e o velho à espera da morte
inabalável e irredutível o meu silêncio não dá tréguas
não sabe de amigos, só de saudades
desconhece a família e faz de mim uma orfã num deserto humano
... só o meu coração lhe resiste e vai pulsando discreto e solidário
... só ele acredita que depois do vazio, o sentido recupera a vida
as pessoas e as coisas recuperam o seu espaço
e eu recupero o Sol e a vontade;
dispo o negro da alma
e mais uma vez cubro a nudez de esperança
dou-me a alegria das pequenas coisas
sacudo a poeira e sigo caminho
Foi numa noite
Há 9 anos
1 comentário:
Oh, Inês!
Saberemos todas o que isso é?
esse silêncio, que escorre tristeza e tudo cobre de negro.
será que todas o conhecemos assim tão bem? que faz parte do nosso ser?
sempre penso, que depende da nossa capacidade de sofrimento, da capacidade de atingir o limite, para se conseguir vir á tona.
Quanto menor, melhor.
Beijinho minha querida
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