quinta-feira, fevereiro 7

descolar dos outros
fugir-lhes do espelho
do reflexo que não me é fiel
e não deixa reflectir o que em mim está para lá dos outros
os meus labirintos, as lágrimas que sequei, os sorrisos compassivos
o sentimento, a ternura, a emoção
o lugar de esperança e dignidade
que dentro de mim guardei para cada ser irmão
no enorme espaço de encontro que trago sempre preparado
não para os encontros banais nem para as conversas ocas
mas para o olho no olho, o coração nas mãos
e nada mais, juro, do que um puro desinteresse
em que só o outro e os seus pesares, as suas alegrias, o seu bem, me interessa
não é assim que o teu espelho me reflecte
não há isenção, não pulsa em ti o que me move
o teu olhar cái sobre mim vindo de outras paragens
o teu mundo espreita o meu
mas é tanto o que fica para lá do meu reflexo no teu espelho...
a imagem que cabe no teu olhar deixa o meu existir de fora
e é tanto e tão maior o que o teu olhar não vê...
arrumada no teu arquivo de: "OUTROS"
para ali fico atirada... estática...
paralisada pelos teus padrões... amordaçada pelos teus cânones...
afunilada...
as côres sem vida própria vão perdendo a intensidade
o reflexo mudo cala-me as palavras e tira-me a melodia
eu, no teu espelho, metálica, sem cheiro, enjaulada em ti, domesticada
em resposta só silêncio; esmagador... imenso... silêncio
e lá, no teu mundo, a minha imagem cativa vai ganhando a palidez das fotos antigas
até que... no fundo de uma velha gaveta de memórias,
esquecida dos espartilhos, e dos outros,
a dança comece, a festa, a alegria
o som da natureza, que, por ser um tudo, não se deixa apanhar no espelho das nossas limitações;
a natureza com a pojança da sua côr, a genialidade da sua criação reduza à sua tremenda insignificância tudo aquilo que os uns reflectem de uns outros,
é quando nela me espelho que recupero então, a minha insignificante relatividade,
a verdadeira dimensão do meu mundo interior
todos os espelhos se quebram
o verdadeiro sol volta a brilhar, entre nuvens, debaixo de chuva,
e eu festejo o meu reflexo na brisa que me embala os sentidos,
nos brotos que rejuvenescem as árvores, a cada ano,
na vida que não pára... nos leva e nos traz a quem amemos
nos leva e nos traz as maravilhosas estações
que não se compadecem com o olhar de quem passa

6 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Que amargura e até uma certa acrimónia está escondida nestas linhas.
Não se vitimize.
Todos os dias o Sol se levanta e ilumina-nos ... voltando, umas horas depois para o ocaso ... mas isto é o Sol.
O nosso ocaso, enquanto vivemos, é quando sonhamos ...
Bons ou maus sonhos, mas não passando disso mesmo ... sonhos.

Os espelhos só refectem o que queremos e pensamos ver.
Também nos mentem.
Até nós lhe mentimos e eles continuam a deformar-nos a imagem.
É a vingança.

Daqui a umas horas é dia e o Sol vai brilhar ...

inespimentel disse...

Agradecida pelo comentário neste dia em que o sol está absolutamente radioso!
Curioso... embora tenha umas quantas recordações amargas não me vejo como uma mulher azeda... até porque tenho no outro prato da balança exactamente o contrário... mas sim, tenho tb esse lado "sêco" numa das minhas facetas!

Anónimo disse...

O Xistosa que me desculpe, mas todos temos o lado sêco, minha querida.

Mas dando alguma razão ao Xistosa, acho que somos nós as mulheres, principalmente as da nossa geração, apesar de seres
mais nova do que eu e do que o Xistosa, que temos alguma amrgura, porque fomos educadas de uma maneira, que nos fez, "aguentar" mais do que seria necessário.

Apesar de tudo, acho saudável, que, os mais novos, se separem mais do que nós, ou pelo menos mais cedo.

Aguentei pouco, no primeiro casamento, só 4 anos, mas não deveria ter aguentado nem 4 meses.



Beijinho aos dois.

xistosa, josé torres disse...

A Marta que me desculpe, mas esse lado seco a que se refere, é derivado desse "aguentar".

Eu era miúdo e lembro-me da minha mãe conduzir e ela morreu quando eu tinha 6 anos.

Já com mais idade lembro-me do meu pai querer que a minha tia, (irmã de minha mãe, com quem o meu pai casou), tirasse a carta, mas ela não quis.

As mulheres dificilmente se livrarão do trauma de centenas de anos de "escravas".

Tenho um amigo e colega,casado com uma amiga e colega da minha mulher.
Já em solteiros dávamo-nos como irmãos.
Por coincidência é primo direito do Garcia Pereira do MRPP. O homem, (advogado), com o qual o seu gabinete dá apoio judicial ao "soba" da Madeira, de quem é ou era inimigo figdagal.
Eu sei isto, porque trato por tu o Toni, (Antònio Garcia Pereira), porque apesar de morar em Lisboa, vinha passar largas temporadas ao Porto e a Braga, onde os tios avós possuiam uma enorme quinta, fora as férias no Porto Santo, onde tem casa.
O que faz o vil metal!

Pois a mulher, desse meu amigo, já tem carta há 30 anos ou mais, mas ele nunca a deixou conduzir.
Há cerca de meio ano, foi operado à próstata.
A filha é recém-médica e foi colocada em Grândola e o filho, advogado, está destacado em Mérida, pertence ao corpo diplomático de Madrid.

Eu e a minha mulher estamos reformados, apesar da minha mulher continuar a dar aulas num colégio do Porto.
Eu tenho o meu estirador e vou rabiscando algo de águas e saneamento. Só hidráulica.

Contei isto, porque ele pediu-me para levar a mulher ou ir buscá-la à noite ás quartas e quintas.
Disse-lhe que não.
Tinham dois carros parados e ela possuia carta, portanto que pegasse num.
Isto à frente da mãe dele e da irmã.
Consegui convecê-lo que a mulher tinha que conduzir, apesar dele não gostar.
Acresce que eu moro nos arredores do Porto e ele mora mesmo na cidade.

Fiquei admirado, pois há imensos anos que não sabia o que era conduzir e safou-se muito bem.
Durante uma semana eu e a minha mulher iamos atrás dela ou à frente ... e ganhou confiança ao volante.

Hoje ele viaja ao lado dela para uma casa qua possuem perto da Meda.
O filho, que era o meu parceiro do ténis, apareceu-me aqui, em casa, em meados de Janeiro com a mãe.
Não queria acreditar que eu tinha conseguido dar a volta ao pai.

Nós só conseguimos ver os erros dos outros.
Aos nossos olhos, tudo o que fazemos é perfeito ... este é que é o grande erro.

E o machismo, por muito que se lute vai ser difícil de erradicar.
Depois de tanto coisa tão "massuda", só mesmo uma anedota para desanuviar.

(abreviando os factos)

Um casamento, partem em lua de mel e quando regressam a casa, à noite, diz o marido:
- Quero que saibas que ás sextas feiras, à noite, vou jogar bilhar com os meus amigos, aos sábados, se não houver futebol, temos umas patuscadas e ao domingo de tarde vou ao futebol.
Nos outros dias á noite, vou ao café com o meu grupo, para tomarmos café e conversarmos.
Se não gostares, tens que te habituar.
- Está bem, diz a mulher, eu só quero que a partir das 11 da noite alguém faça sexo comigo.
Quer tu estejas, quer não!

Bom fim de semana.

xistosa, josé torres disse...

Deixei no "inséte" a explicação.
È um bocado comprida.
Há cerca de 46 anos, mandaram-me comprar uma embalagem de Modess.
Só se vendia nas Farmácias e salvo erro custava 2$80.
Bom fim de semana.

inespimentel disse...

Apanhámos anos de mudanças fantásticas... só não aproveitou a boleia quem não quiz... hoje podemos dizer que oportunidades não faltam... haja vontade, inteligência e sensibilidade para escolher o caminho agora que a sociedade deixou de trazer as mulheres espartilhadas a açaimadas!
Seria óptimo que as mulheres percebessem que a ideia não é conseguir os mesmos "direitos" que os homens... Deus me livre, eu por aí não quero ir... tenho outros planos...

o que me faz feliz

o que me faz feliz
o meu mundo ao contrário

O meu Farol

O meu Farol

A bela foto

A bela foto
o descanço dos meus olhos

A minha cama na relva

A minha cama na relva

O meu Algarve

O meu Algarve

...enquanto uns trabalham...

...enquanto uns trabalham...