terça-feira, novembro 18

Nuvem... NEGRAAA



A nuvem negra estava lá
como sempre

densa, pesada, carregada duma água gelada,
incapaz de se desabar num dilúvio,

debaixo dela, estacionados, uns tantos seres pálidos
de braços caídos,
olhos húmidos, olhar vazio

a nuvem negra... sólida, segura
daqui não sáio, daqui ninguém me tira
desviem-se os que querem o sol

eles nada... tristinhos... impotentes

- Ai, que a nuvem está negra, ai... que negra... a nuvem!

outros, mais finos, têm uma só para si
e não querem outra coisa
quando as suas desgraças não lhes chegam
adoptam as dos outros e ali estão
uma vida
eles e a sua nuvenzinha negra, privada

puxa-me às vezes o caminho
para debaixo duma nuvem negra

assim que lá chego, até parece que me sinto em casa

já sei o que fazer:

- Lábios pendidos, olhar lânguido, braços cruzados
faço-me de morta, ali,
estacionada debaixo da minha nuvem negra;

já vivi muitas e muitas vezes este papel,
é com relativa ligeireza que me enfio debaixo delas

o pior depois, já se sabe, é sair
ui , dói, dói, e nada!
a inércia, a apatia, a tristeza que inunda até ao tutano
os arrepios de desconsolo,
os suspiros que arrasam tudo à volta
enfim o cenário de desconstrução que se instalou
exige grande logistica emotiva
para se demover do seu estado letárgico

subitamente, inadvertidamente,
um braço solta uma mão
que a nuvem negra não protege do sol
e, como se o carrocel da feira
tivesse recebido a sua moedinha
começa o circo,
começa a vida de novo

um passo para o lado, dois
... por cima um céu azul rasga um sorriso de boas vindas
dissipada a tristeza, a vontade vem de novo
enroscar-se dentro de mim

a nuvenzinha negra está lá

como sempre

Tenho de estar atenta

senão vou estacionar debaixo dela novamente

para sair

já se sabe

ui ui

8 comentários:

claras manhãs disse...

Vês?!
Diz lá que não faz jeito uma gaiola para a poder a aprisionar, à nuvem, claro está

Ainda bem que já passou, por enquanto. Que as idotas voltam sempre.

beijinho

Prof-Forma disse...

enho agradecer a visita que fez ao meu blogue. Estimo que volte!

Bartolomeu disse...

Ora Inês, confessa lá, onde se iriam carpir as mágoas se não existisse o acolhimento melancólico de uma nuvem negrinha como a nôti?
;))))
A "ciência" reside na capacidade de permanecer sob a núvem, o tempo estritamente necessário para que o código sensorial se realinhe.
;)))

eu disse...

gostei muito deste e do Zappa! beijos
Graça.

inespimentel disse...

Se faz Minuxa, se faz a foto da tua gaiola de nuvem está espectacular.

inespimentel disse...

jv foi um prazer visitar o seu blogue talvez um pouco erudito para os meus voos mas vou voltar!

inespimentel disse...

É Bartolomeu, mas e quando o tempo necessário já lá vai e a doce, mas paralisante, melancolia não se demove, nada,até arrepia...
O código sensorial ali, a vitimizar e a reduzir tudo ao desconsolo... o pensamento feminino, o meu pensamento certamente,é incessante e tortuoso, cheio de floreados e altos e baixos... uma canseira...

inespimentel disse...

Também eu gosto deste, e gosto tanto do Zappa.... gosto ainda e muito de reler os meus postes.
Tenho a noção de que falo muito de mim, do que penso e sinto... talvez se torne por isso maçador, mas é o mundo que conheço e , como tu sabes, não sou cega ao mundo dos outros mas gosto mais de falar daquilo que conheço melhor... eu... o que "eu" sente, e o que "eu" pensa!

o que me faz feliz

o que me faz feliz
o meu mundo ao contrário

O meu Farol

O meu Farol

A bela foto

A bela foto
o descanço dos meus olhos

A minha cama na relva

A minha cama na relva

O meu Algarve

O meu Algarve

...enquanto uns trabalham...

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